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22.4.08

Resenha: Legião Urbana - O Descobrimento do Brasil

Por DJ Bellangero - redacao@sweetdreams.mus.br

Hey Spuds! Aproveitando uma deixa que só é possível uma vez por ano, abaixo uma resenha (cheia de spoliers e de impressões individuais, para variar) do álbum O Descobrimento do Brasil (já tinha esquecido que, segundo a tia Cotinha, o Brasil teria sido "descoberto" em 22/04/1500 né?).

Legião Urbana provoca amores e ódios. É uma banda da qual é difícil você ficar passivo. Existia até nos idos de 80 uma rixa entre os fãs da Legião Urbana e do Barão Vermelho, assim como as (não tão) saudáveis brigas entre fãs de Senna e Piquet. E o grupo dos fãs de Legião ainda se dividem nos que consideram que esse foi o último álbum da banda (sendo A Tempestade e Uma Outra Estação álbuns do Renato Russo com participação dos outros integrantes) e os que dizem o contrário. Um breve resumo histórico para aqueles que nem eram nascidos no fatídico ano de 1993:

- O que você conhece hoje como República Checa (e todas as piadas adjacentes) e Eslováquia, um ano antes a gente conhecia como Checoslováquia;
- Inicia-se a entressafra de Bushes (presidentes, que conste). Bill Clinton inicia uma série de dois mandatos;
- Brandon Lee morre em um suposto acidente nas filmagens de O Corvo. Com um pouco de computação gráfica, nem se percebe isso no filme. Nesse ano também morreu o Frank Zappa;
- Nirvana lança o In Utero. Pearl Jam lança o Vs. e a partir de 1993 ficamos esperando pelo Guns lançar o Chinese Democracy;
- Itamar Franco começa pra valer na presidência: Collor, o presidente anterior, foi caçado no final do ano anterior;
- Um Big Mac com fritas e refrigerante custava cerca de Cr$ 13.000.000,00 (isso mesmo: treze milhões de cruzeiros. Uma boa mesada era de cerca de Cr$ 50.000.000,00).

Bom, nada disso quase tem haver com o álbum... é só para compensar meu estado de velhice com um monte de interrogações na cabeça dos leitores mais jovens.

O que se deve levar disso para entender o álbum é que a cena política no Brasil não estava lá essas coisas, embora pela primeira vez o brasileiro achasse que podia fazer justiça, o que deixou muitos de nós bem ranzinzas (eu não, eu era grunge). No mundo de Renato Russo e patota, o Band Leader estava começando um tratamento para se livrar de dependência química. Esses dois incidentes dizem bastante sobre o álbum. Outro ponto é que o cantor já sabia que era portador de HIV, embora não tivesse assumido publicamente.

Nesse cenário temos 14 faixas, dentre elas a favorita do cantor e, segundo ele, sua obra prima (Giz). Vamos a elas.

29: a música é um lamento digno do Charlie Brown de 3:42, sempre citando ciclos de 29. Essa música de autoria do Renato Russo é totalmente pessoal. Uma dica pra entender ela: Renato Russo assumiu sua sexualidade publicamente com 29 anos. E descobriu que era soropositivo com a mesma idade. Nessa música dá pra sentir algumas invencionices que se ouve também no Acústico (gravado um ano antes e só lançado em 1999);

A Fonte: tem uma batida bem pop, em contraste com a letra, que fala dos problemas mundanos, como depressão, violência, desespero, doença, esperança e, com um pano de fundo, uma lúdica busca às fontes do reino de Hades. Se ele não dissesse "e esta é uma canção de amor", no fim da música, eu não teria percebido. No meio, uns vocais sampleados, com aquele manjado mas sempre bacana efeito de "gravado pelo telefone", que faz parecer um pastor de rádio AM;

Do Espírito: guitarras distorcidas, solos. O mais perto que a Legião Urbana já conseguiu chegar de "pesado". A letra é uma discussão com alguém, com frases do tipo "sai de mim porque eu não quero mais saber de você". O vocalista teria dito que seria "para uma pessoa ruim mas funciona para os críticos dos jornais e revistas".

Perfeição: uma metralhadora de críticas a atual situação do país. Primeira música (e acho que única, além da canção título do álbum) da Legião a usar bateria eletrônica. Tem aquela mesma pegadinha pop de A Fonte. Dizem que o original era impublicável, de tantos palavrões que tinha, até que a mãe do cantor pediu que ele desse uma maneirada. Os últimos versos tem, como música incidental, O Bêbado E O Equilibrista da Elis Regina. Tente cantar os versos de uma na outra;

O Passeio Da Boa Vista: praticamente um interlúdio. Tem a duração exata de dois minutos e é instrumental (dá pra usar de boa como espera telefônica), embora possua letra, jamais cantada:

O meu coração está desesperado espero por alguém que nem virá
Abro a janela dou de cara pro mar e meus sonhos a navegar
Meus segredos estão expostos
Meus desejos seguros
Não vou sofrer
Não quero sofrer
Talvez morrer

É só a solidão batendo na janela do meu quarto
Estou sozinho já não sei quanto tempo vou suportar
Estou sem coragem, não quero chorar.
Um dia na chuva outro no sol
O passeio da boa vista nunca aconteceu
Ouço apenas o ruído do silêncio
E não sei o que dizer
Apenas sei chorar

Descobrimento do Brasil: devia-se chamar Descobrimento do Amor. Romântica em nível piegas quase (isso não é um demérito, que conste). Exalta as coisas simples que, no fundo, é o que faz a gente se apaixonar por uma pessoa ou lembrar de um lugar e momento. Tem um arranjo bem simples, como deveria ter;

Os Barcos: o que começa com o Descobrimento termina com os barcos. Mais uma baladinha, com umas puxadas mais pesadinhas em alguns pontos, por conta das guitarras. A canção do relacionamento que termina unilateralmente e do outro lado que não se convence disso.

Vamos Fazer Um Filme: esse álbum está recheado de musiquinhas românticas e essa é mais uma delas. Você adolescente: precisa escrever algo para aquela garota/carinha que está afim: esse é o álbum! Tem todos os temas e ele/ela provavelmente não vai saber que é plágio. Vamos fazer um filme é para aquela situação quando você encontra uma pessoa de muito tempo atrás e se apaixona por ela, na pior depressão da pior fase possível da sua vida. Tem umas rimas meio forçadas, perceptíveis quando se canta ("Um por todos, todos por um"), mas é bem gostosa. Uma das minhas favoritas do álbum (não só minha: o refrão "como é que se diz eu te amo" virou título de um dos álbuns ao vivo);

Hoje Não Dá: Traz a receita de Renato Russo para fazer uma pessoa (pegue duas medidas de estupidez, junte 34 partes de mentira...) com uma batidinha bem dançante. Fala de "decepção crente": hoje não dá. Nunca se sabe o dia de amanhã;

Um Dia Perfeito: tem uma batida triste. É engraçado como as músicas mais agitadas desse álbum trazem as mensagens mais desesperançosas e vice-versa. Nesse som, tem uma coisa de tomada de fôlego: colocar os pés no fundo do poço pra começar a subir;

Giz: Baladinha. Se os relacionamentos desse álbum tivessem uma ordem cronológica, podemos dizer que Giz vem depois de Os Barcos. A letra passa aquela coisa nostálgica de lembrar das boas coisas juntos, com alfinetadas de quem não terminou o relacionamento ("... pra ser honesto, só um pouquinho infeliz"). Dependendo da leitura, pode ser uma carta de despedida;

Love In The Afternoon: Esqueça o que eu falei de carta de despedida. Essa sim deve receber o título. Na verdade, ela é uma: foi feita para um amigo de Renato Russo, Luís, que foi baleado na porta de uma balada. A cítara que toca de fundo dá uma força para a aura lúgubre da música;

La Nuova Gioventú: mais uma música "pesada". Mais uma música de separação. Tema recorrente do álbum, mostrando várias facetas da mesma moeda, sempre naquele pensamento desesperado. Particularmente não entra nem no meu Top 50 deles;

Só Por Hoje: baladinha que fecha o álbum como deveria. Começa com o pessimismo de tudo que aconteceu 29 vezes, mas termina com uma esperança, afinal "só por hoje vou me lembrar que sou feliz". A música tem inspiração no lema dos Alcoólicos Anônimos: um dia de cada vez. Reflete a rehab do cantor.

Em resumo, o álbum está longe de marcar presença como o onipresente As Quatro Estações ou de ter os preciosismos musicais de V, mas é um bom álbum deles. Tem muita coisa aqui que deveria ser redescoberta, assim como o Brasil. Não vou colocar uma nota, pois não tenho dados de outros lugares para que você possa comparar as notas. Mas fique à vontade para deixar as suas opiniões sobre esse álbum ou sobre a resenha!

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